sexta-feira, 29 de junho de 2012

COREÓGRAFOS - com Handerson Lopes (o Big)



O nosso homenageado tem muita história para contar. Handerson Lopes, o "Big", é uma das figuras mais conhecidas do carnaval carioca e um dos mais importantes componentes de comissões de frente.

Big começou no carnaval ainda criança e fez parte do premiado grupo do coreógrafo Fábio de Mello na Imperatriz. No carnaval carioca já foi componente e coreógrafo de comissões de frente, coreógrafo de alegorias e alas e até carnavalesco pela Unidos da Ponte em 2007.

Então, é com muito orgulho que vamos contar um pouco de sua trajetória. O bate papo você confere a seguir:




CF - Você é uma dessas pessoas que a gente encontra na rua e imediatamente associa ao carnaval. Quando e como foi o início deste namoro que se tornou casamento com as Escolas de Samba?

- Foi bem criança mesmo! Eu tinha 9 anos quando comecei a desfilar em escolas de samba! Quem me apresentou esse universo foi meu falecido pai, o "BOLA" que era diretor de Harmonia. Comecei desfilando pela İmperatriz Leopoldinense na ala de crianças, isso em 1985! Muito tempo não! (risos). Aí depois fui desfilando em outras escolas, ora em ala das crianças como foi na Tradição e na Unidos da Ponte, ora em ala com meus pais como foi no Arranco e na Unidos de Lucas. Mas lembrando que na İmperatriz sempre!

 CF - Você fez parte daquele grupo histórico comandado pelo Fábio de Mello na Imperatriz. Quais foram os anos em que você esteve no grupo? Conte um pouco como foi essa experiência.

- Minha entrada nesta comissão foi algo bem inusitado digamos. Na época em que ela estava sendo formada, eu só fiquei sabendo depois das primeiras audições na quadra! Um diretor informou pro meu pai que estavam precisando de componentes altos para desfilar na comissão de frente, daí fui procucar o Fábio (bem pelos anos de convivência não dá pra tratá-lo aqui formalmente! Mas o Fábio que me refiro é o Fábio de Mello! rs). Quando cheguei lá ele me informou que o grupo já estava fechado e que as vagas para suplentes estavam definidas, mas como eu era componente da escola e meu pai sendo diretor, eu poderia ir de vez em quando ir aos ensaios e quem sabe não poderia vir a ser suplente. Portanto deu para perceber que nesse grupo eu comecei como "suplente dos suplentes"!!!! (risos). Então, todos os dias de ensaios lá estava eu! E isso se estendeu até janeiro quando fui oficializado como um dos 15 componentes. Naquele ano, o carnaval de 1992 foi em março, então com apenas 16 anos eu entrei para o grupo que se tornaria um dos mais famosos e premiados do carnaval. Eu permaneci até 2007 quando o grupo, junto com o Fábio transferiram-se para a Mocidade. Nesses 15 anos e 16 carnavais fiz grandes amigos, perdi um - em 1996 um componente foi assassinado. Nosso desfile e estandarte de ouro de 1997, o terceiro da nossa carreira, foi dedicado a ele. Apenas em 1999 eu não desfilei pois por questões religiosas - me iniciei no candomblé em janeiro do mesmo ano - estava de resguardo, mas torci pela tv! (risos). Me considero campeão também daquele ano, só estava no banco! (risos).

CF - A comissão da Imperatriz lhe proporcionou algumas viagens internacionais. Como foi a receptividade deles?

- Isso eu não me canso de dizer: Se comecei a conhecer o mundo, isso quem me proporcionou foi Imperatriz Leopoldinense pelo fato de ser da comissão de frente. Desde a época de escola conhecer a França era um dos meus desejos e ele foi realizado em 1996 quando um grupo de 80 pessoas da escola foi convidado a participar da Bienal de Dança de Lyon. Depois dessa viagem ainda vieram outras como a de 1997 para Mônaco; essa foi por convite do grande mestre e ídolo Joãosinho 30 que na ocasião estava na Viradouro! Participei das festividades dos 700 anos da dinastia Grimaldi de Mônaco. Em 2004, novamente com a Imperatriz estive na Dinamarca por conta do enredo que homenageava o escritor dınamarquês Hans Christian Anderssen. Em todos esses lugares fomos super bem recebidos, até porque o carnaval brasileiro, especificamente as escolas de samba e seus elementos fascinam bastante.

CF- Você tem um afeto maior ou uma preferência por alguma daquelas apresentações?

- Tenho por todas um carinho especial porque as ocasiões eram distintas. Em 1996 era a primeira viagem, em 1997 eu estava lado a lado com um grande gênio do carnaval e em 2004 era interessante porque realizávamos paradas estilo Disney no Tivoly Parque.

CF - Você foi componente da comissão de alguma outra escola?

- Não! Mas tinha entrada em todas caso quisesse, sempre fui muito querido e bem relacionado! O fato de não ter desfilado em outras comissões acredito que se deu por já ter começado a desfilar na minha escola de coração. Geralmente os processos são inversos, muitos desfilam em várias até chegarem na sua de coração!

CF - Sabemos que muitos componentes quando se “aposentam” das comissões, acabam ocupando outros cargos nas escolas. Você se tornou coreógrafo... Como isso aconteceu?

- Foi naturalmente, o fato de ter tido o Fábio como coreógrafo foi muito importante, já que ter participado de suas comissões me fez entender o que é o quesito e também ter noção dos efeitos que os desenhos coreográficos causam na avenida. O Fábio é muito bom nisso! Nós sempre comentávamos essa visão do todo que ele tem, às vezes um movimento que para nós era simples ou até bobo, no final de tudo com fantasia e adereço se tornava algo grandioso. Revejam a comissão de 2002, por exemplo. (Veja post com suas comissões na Imperatriz))

Eu fui absorvendo tudo isso até que em 2004, Milton Cunha que na ocasião estava na São Clemente, me chamou para coreografar um grupo de 11 pessoas que traziam nas mãos escudos que juntos formavam o nome da escola e vinham logo após a comissão de frente, portanto num lugar destacado, era quase que como uma "segunda" comissão de frente. Depois disso, em 2005, por contato de um amigo, Tito Jorge que trabalhava com um diretor da Unidos da Ponte, fui levado à presença do senhor Edson Tessier, o então presidente e assim assumi a comissão de frente da escola. Na minha estréia fui premiado com o Samba Net de melhor comissão de frente do grupo B. Daí em diante os anos se seguiram e eu fui me afirmando nessa posição. Confesso que para mim, não vir diretamente da dança propriamente dita, ou seja, não ser bailarino como a maioria dos coreógrafos, me torna um pouco especial! Sirvo como exemplo para outros componentes que queiram seguir esse caminho. Nessa minha trajetória já acumulei 3 Sambas Nets e dois Jorges Lafonds.

Até 2007 eu só tinha coreografado comissões do grupo de acesso B e em 2008 fiz minha estreia no badalado grupo de acesso A, na União da Ilha que na ocasião reeditava o seu samba mais famoso e gravado por muitos cantores, o "É Hoje". Tenho um enorme orgulho de ter coreografado a comissão deste ano! Depois disso passei pela Estácio de Sá e İmpério Serrano. respectivamente 2009/2010 e 2011.

CF - Até que ponto o fato de já ter sido componente interfere na sua criação?

- Eu consigo entender melhor meu componente e perceber os limites deles! Também posso ajudar em relação a adequações da fantasia e adereços. Até porque as vezes alguns carnavalescos esquecem que a comissão de frente vai se vestir horas antes do desfile, dançar durante um tempo e às vezes carregar adereços que depois de um tempo estarão como seu peso quase que triplicado devido a repetição dos movimento! Então acho que ter sido componente ajuda nesse processo.

CF - Por falar em criação, de onde partem as idéias? Você cria em conjunto com o carnavalesco ou assume toda a concepção?

-Crio em conjunto sempre, até por que a comissão de frente é parte do enredo idealizado pelo carnavalesco. Geralmente ele lança uma idéia guia ou diz como está definido seu primeiro setor, daí eu venho com as minhas e chegamos a um denominador comum. Eu procuro sempre fazer comissões que tenham conceito, que mesclem objetividade com simbolismos. E uma coisa importante de ressaltar é que grandes enredos sempre costumam "gerar" comissões de frente marcantes!

CF - Embora este ano houvessem mulheres em sua comissão, seus elencos são em grande maioria masculinos. Quais os critérios utilizados na seleção do seu grupo?

- Eu herdei o que o Fábio mais defendia: TRABALHAR COM PESSOAS COMUNS! Não que eu tenha algum preconceito quanto aos bailarinos em comissão de frente. A questão é que acho mais gratificante e desafiador trabalhar com pessoas "normais" e fazer delas grandes dançarinos! Eu já tive componente que não sabia girar! E hoje me agradece por isso! (risos). Com bailarinos o trabalho seria muito mais fácil, mas acho que essa não é muito a inversão que o carnaval propõe! É legal ver o simples se tornando rebuscado na Sapucaí.

CF - O quesito está passando por transformações. Há uma constante busca por inovações, os tripés estão cada vez maiores, os truques estão cada vez mais presentes... Mas seus trabalhos ainda valorizam muito o contingente humano na abertura do desfile. O que tem achado dessas mudanças?

- Olha acredito que ainda valorizo o contingente humano porque faço comissões nos ditos grupos de base! Com certeza chegando um dia no Grupo Especial me adequarei a esta tendência. Eu vejo tais inovações como pertinentes, porém é preciso usá-las com cautela! Não adianta ter um tripé que sirva só de palco ou pano de fundo para comissão de frente, ele tem que estar inserido no contexto da mesma, de modo que não seja percebido como tripés, ou seja, passe despercebido! Esse ano (2012) tivemos dois exemplos claros disso que falei. Tanto para o bem como para o mal. Analisem as comissões da Vila e Porto da Pedra.

CF - As notas são comparativas e o regulamento não é tão claro sobre alguns pontos. Você acha que ele deveria passar por mudanças?

- Esse é um ponto complicado já que as notas geralmente tendem ao gosto pessoal do julgador e muitas das vezes, não ao que a comissão realmente merecia! A comparação é válida sim! Mas o que existe é uma banalização do 10! Esse ano mesmo no Grupo Especial, ao meu ver o único 10 seria o da Vila! Ela seria nota de partida das demais! Quanto ao regulamento acho que ele deveria ser menos omisso no que se refere ao número de componentes! Segundo ele o máximo são 15 componentes, mas todos sabem que hoje muitas comissões colocam o dobro e as vezes até o triplo de pessoas participando! Por que o regulamento não assume isso? Outra coisa é quanto a apresentação no setor 3! Não está claro! Se apresentar significa virar-se para o setor 3 e dançar ou passar pelo mesmo setor dançando?

CF - E os jurados? A apresentação de uma comissão de frente tem características próprias para o enorme palco que é a Marquês de Sapucaí e ao contrário de tempos atrás, hoje os julgadores possuem um certo vínculo com a arte. Você acha que eles estão preparados ou falta algo mais?

- Acho que por serem da dança ele têm sim o um apuro melhor no julgamento das comissões.

CF - Você também coreografou alegorias e alas. Como é lidar com um número tão grande pessoas, com a diversidade e com a pressão da diretoria da escola?

- É uma loucura! (risos) Em alas e alegorias a quantidade dos problemas se quadriplicam! Um exemplo, se numa comissão de 15 você tem 3 faltas num dia, seu ensaio já fica prejudicado! Pense agora numa ala de 150! A escola quer ver o povo cantando. A ala só fecha quase sempre em janeiro e o pior disso tudo O COMPONENTE QUER SAIR EM TODAS AS ESCOLAS QUE TEM ALAS COREOGRAFADAS; logo eles não são exclusividade! (risos) Em dia de ensaio técnico então, quando calha de cruzar as escolas que ele desfila no mesmo dia... nossa! Porém é válido ressaltar que o resultado final desses grupos são muito satisfatórios. Vide as alas que coreografei na Vila 2010, os malandros de Noel onde os componentes vinham com uma cadeira de bar nas mãos e ala desse ano (2012) na Ilha que formavam os aros olímpicos!


                     Ala da União da Ilha 2012                                                       Ala da Vila Isabel 2010
Algumas comissões coreografadas por Big:

União de Jacarepaguá 2007

União da Ilha 2008

União de Jacarepaguá 2009

Estácio de Sá 2009

Estácio de Sá 2010

Império Serrano 2011

Mocidade de Vicente de Carvalho 2011


Unidos de Vila Santa Tereza 2012


Enfim, Big é uma daquelas pessoas que resumem a própria folia. Componente, carnavalesco, coreógrafo... FOLIÃO! O amor e a dedicação pelas escolas de samba o torna muito especial e nós do Blog COMISSÃO DE FRENTE só podemos dar os parabéns pela grande trajetória e desejar muito sucesso no caminho que ainda está por vir. 





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