Marcelo Misailidis
O cartão de boas vindas uruguaio na festa brasileira
Por Rafael Rezende
2008
Agora abra os olhos. E o que desponta à sua vista? Ah sim, a comissão de frente, o cartão de boas vindas. Há umas duas décadas atrás poucas pessoas teriam imaginado a revolução que transbordou neste quesito e que o fez um espetáculo particular dentro de um maior, o desfile em si.
"É o quesito mais aberto a inovações, e o que gera mais expectativa".
As comissões se tornaram uma forma única de representação. Cerca de 40 minutos para se atravessar uma avenida com 60 mil pessoas nas laterais, e 700 metros pela frente. Um desafio que foi, cada vez mais, encarado com ares mais profissionais, culminando com a vinda de bailarinos e coreógrafos dos mais talentosos, que nossa nação apresenta. Dentre esses, um dos que mais se destacam é, sem sombra de dúvidas, Marcelo Misailidis.
“Acho que neste período contribui positivamente para o desenvolvimento do espetáculo da comissão de frente no Sambódromo, sem perder o objetivo de apresentar a escola. Esta experiência também acrescentou muitos valores na minha carreira de encenador.”
Marcelo nasceu no Uruguai, chegando ao Brasil quando tinha nove anos. Em meados da década de 80 iniciou sua carreira como bailarino. Participou de reconhecidos concursos internacionais, estudou em Cuba, em 1990 tornou-se o primeiro bailarino do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde também atua como diretor artístico do corpo de baile, e ainda fundou a da Escola de Dança Misailidis.
“Quando a Unidos da Tijuca me convidou, em 1997, as comissões estavam num processo de adaptação, precisavam corresponder ao crescimento e ao embelezamento das escolas. Mas tive dificuldades iniciais com as especificações da avenida. Acho que eu e outros coreógrafos contribuímos para a festa com o profissionalismo e por entendermos o sentido de produção de um espetáculo.”
Marcelo ficou mais quatro anos na Unidos da Tijuca. No acesso em 99, trouxe a comissão fantasiada de índios para abrir o enredo “O Dono da Terra”, no que talvez seja o melhor desfile já apresentado no sábado de carnaval.
Em 2000, a comissão de frente ganhou destaque nos jornais, como um dos melhores momentos que rendeu o 5º lugar a Tijuca, sendo formada por dez negros vestidos de índios e cinco brancos colonizadores. Neste ano Marcelo coreografou também as cem baianinhas da escola.
No enredo sobre o ousado Nelson Rodrigues, a comissão de 2001 relembrou o imaginário e luxúria da peça “Vestido de Noiva”, com direito a uma provocante noiva e um imenso véu, de onde saiam os outros integrantes da comissão.
O ano de 2002 trouxe, enfim, o primeiro Estandarte de Ouro a Marcelo. No enredo sobre a língua portuguesa, Camões e os navegadores transformavam a primeira página de “Os Lusíadas” em um barco “de papel”, levantando o público com a surpresa.
O carnaval de 2006 foi aberto por 15 aranhas, que teciam teias, utilizando de agulhas vermelhas, e imitavam movimentos típicos do inseto. As cinco agulhas foram confeccionadas com pultrudado, um metal utilizado em plataformas de petróleo. Dessa vez o Estandarte não veio, mas a comissão foi bastante aplaudida pelo público.
Em 2006, em uma votação organizada pelo Jornal Extra, Misailidis foi eleito o coreógrafo da escola de samba perfeita. A escolha foi feita pelos presidentes das agremiações que na época estavam no Grupo Especial, à exceção de Nilo Figueiredo (Portela) e Fernando Horta (Unidos da Tijuca).
Este ano, veremos a estréia deste profissional na Vila Isabel, aguardando mais uma vez o talento, a capacidade de fazer um grande espetáculo de abertura com muita criatividade, sabendo alternar estilos de coreografia, utilizando de componentes da comunidade, e apresentando a escola como se deve.
“Minha contribuição foi outra. Foi o sentido de organização, a disciplina e o compromisso com o conjunto. Não é somente ensaiar. É como a produção que cuida de um espetáculo, desde o funcionamento das bilheterias até o cerrar das cortinas. Não adianta valorizar um aspecto e ficar carente por outro lado. Por isso, trabalho basicamente com pessoas da comunidade. Para não ficar limitado a uma especificidade estética.”
FONTE: TRADIÇÃO DO SAMBA
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