domingo, 10 de março de 2013

TRIBUNA DE MINAS - A Sapucaí (também) é nossa!


Cidades da Zona da Mata inspiram comissão de frente da campeã Vila Isabel

Por Júlia Pessôa
A terra, o homem e seu cotidiano conjunto. Na comissão de frente da campeã do carnaval carioca, Vila Isabel, três grupos de bailarinos, minuciosamente coreografados, levaram à Sapucaí a vida que surge da terra, as pragas que destroem plantações e um verdadeiro arraiá de cidade do interior. Tudo isso sobre um imenso caixote, símbolo do transporte das riquezas do campo para a cidade, em que as mudanças eram guiadas por controle remoto.
Segundo o responsável pelo cartão de visitas do desfile, o coreógrafo Marcelo Misailidis, grande parte da inspiração veio da Zona da Mata mineira. "Analisei muito o ritmo da vida no campo em municípios próximos a Juiz de Fora, como Coronel Pacheco e Goianá, e como as peculiaridades influenciavam a vida das pessoas. O caixote, o 'arraiá' e a igrejinha são elementos muito fortes da cultura dessa região de Minas, que influenciaram bastante no resultado que se viu na avenida."
Com 16 anos de Sapucaí, o coreógrafo, que dirige o Ballet Misailidis ao lado da esposa, a juiz-forana Danielle Marie, já recebeu mais de 20 prêmios por sua atuação em agremiações como Unidos da Tijuca, Salgueiro e, há seis anos, na Vila Isabel. "Mas o título de campeão do carnaval é inédito, e muito especial."
Para Marcelo, que já participou das mais famosas montagens de balé nas companhias de referência no mundo, e foi primeiro bailarino e diretor do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, formações artísticas consideradas mais "eruditas" sempre tiveram um "pé" na avenida. "O próprio Joãosinho Trinta foi bailarino do Municipal, por exemplo. Quando fui convidado pela primeira vez, as comissões de frente estavam em franca ascensão, e acho que meu trabalho ao longo dos anos tem contribuído muito para ampliar a visibilidade do quesito. Tanto é que, desde então, diversos coreógrafos assumiram comissões, as escolas foram valorizando profissionais desta origem profissional."


'Como fazer um filme'

Na visão de Misailidis, a comissão da Vila Isabel, que arrancou notas entre 9,9 e 10 do corpo de jurados, foi determinante para o título de campeã da escola. "Primeiro porque, atualmente, ela é um momento muito esperado, é quem dá o tom dos desfiles. Depois, porque mais importante que a pontuação da comissão em si, o trabalho que fizemos influenciou na totalidade, trouxe a síntese de todo o enredo da Vila, contribuindo na pontuação máxima em harmonia, evolução e conjunto."
Além disso, o coreógrafo destaca que a escola tem uma identidade própria, que transcende o nome de um ou outro carnavalesco que tenha passado por lá. "É a escola de Noel Rosa, de Martinho da Vila, com todo o peso que isso representa. A Vila tem uma base poética muito boa, que é própria, e o traço dos carnavalescos que passam por lá se adapta a ela. Ela ainda não é considerada como uma das maiores, mas conquistou espaço entre as grandes. Neste ano, ganhamos com folga em relação ao segundo lugar, e isso é resultado de um trabalho contundente."
Outro segredo para o sucesso da escola, para Misailidis, é o trabalho em equipe. "É resultado do esforço conjunto de muita gente, que tem início muito antes do desfile, com marceneiros, pedreiros e eletricistas, que já começam a trabalhar em conformidade com o que se espera da apresentação na Sapucaí", pondera Marcelo, que destaca um membro especial em sua equipe particular, que tem um toque juiz-forano. "A Danielle, minha esposa, doa seu tempo de folga para me dar atenção e suporte. Fazer uma comissão de frente é como fazer um filme, exige uma pesquisa enorme, e ela sempre tem um papel muito grande nisso. Neste ano, especialmente, ela me ajudou muito, já que é mineira e conhece bem a região que acabou tendo uma grande influência no resultado."

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